A Co-Dependência, Amor ou Maldição?

Meus amigos(as) este texto é muito interessante. Já li vários livros sobre o assunto e cada vez mais me convenço que nossos relacionamentos (afetivos, profissionais, familiares) são baseados no binômio: dominação e submissão, ou seja, o controle sobre o outro.
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Por Rui Ferreira Nunes | Janeiro 21, 2009
A entrega incondicional na relação amorosa desde há muito que se tornou um arquétipo universal, cantado pelos poetas, empolado nos romances e ilustrado no cinema ou no teatro em cenas dramáticas que nos comovem a todos, tal é o nosso desejo de sermos assolados por um  sentimento amoroso tão avassalador. Na realidade, a entrega sem limites ao outro tem consequências nefastas para o próprio e revela diversas fragilidades justificadas pela intensidade do sentimento amoroso. Gradualmente a pessoa anula-se na relação para poder servir os interesses da pessoa amada, funde-se com ela chegando mesmo a perder a sua própria identidade, enquanto reclama não sentir da outra parte o mesmo empenho e devoção. A organização da vida de alguém em torno da pessoa amada ao ponto de tornar inconcebível a sua existência sem o outro é uma forma de dependência semelhante à dependência de drogas ou álcool, cujo carácter destrutivo requer tratamento e prevenção. Desde o final dos anos 70 que surgiu no meio da psicoterapia o conceito de co-dependência inicialmente usado para descrever as pessoas cuja vida era afetada por alguém dependente de drogas ou álcool. Este conceito teve origem nos Alcoólicos Anónimos que organizaram grupos de auto-ajuda para apoiar os cônjuges de pessoas dependentes do álcool, os Al-Anon. Estas pessoas eram caracterizadas por procurarem relações com pessoas dependentes de substâncias na medida que estas suscitariam comportamentos co-dependentes. Estes comportamentos incluíam uma enorme reatividade, necessidade permanente de controle do outro, baixa auto-estima e esvaziamento emocional da pessoa co-dependente. Este conceito rapidamente se alargou a  pessoas que estabelecem relações em que ficam obsessivas em controlar o comportamento do outro, esquecendo-se de si próprias e do que as terá levado a agir desta forma. As pessoas co-dependentes sentem-se incompletas sem o parceiro(a). Têm pouco amor-próprio, são muito auto-críticas e sentem-se magoadas facilmente. Por estas razões os co-dependentes são muito reativos às atitudes e comportamentos do outro, têm dificuldades em expressar certo tipo de sentimentos em que julgam ficar demasiado expostos ou vulneráveis. Por consequência, estas pessoas têm dificuldade em pedir ajuda, em reconhecer os seus erros e olhar para as suas feridas. Tudo porque têm medo de perder o controle. O controle sobre si próprias que é assim assegurado através do controle do outro. Os co-dependentes tentam reforçar a sua auto-estima ajudando os outros a resolver os seus problemas, nem que para isso tenham de comprometer a sua integridade e os seus valores. Os co-dependentes têm dificuldade em dizer não, têm relações sexuais sem vontade, despendem demasiado tempo a dizer que tudo vai bem. Numa fase inicial, os co-dependentes dedicam-se a tentar “salvar o outro”, zelando quase religiosamente pelos seus interesses, tomando para si a responsabilidade das suas ações, pensando por eles, sofrendo as consequências do seu comportamento. Posteriormente, os co-dependentes zangam-se com os outros pela falta de gratidão e reconhecimento, chegando ao ponto de sentir uma raiva incontrolável sobre os outros e sobre si próprios. Este ciclo deixa a pessoa co-dependente ainda mais frágil porque deu tudo e afinal não mudou nada. Na verdade, a pessoa co-dependente ajuda o outro a perpetuar os seus problemas e a desresponsabilizar-se dos seus atos. Quando estas relações atingem um ponto de  ruptura, a pessoa co-dependente tende a procurar outra pessoa problemática para dar início a um novo ciclo.
A recuperação da co-dependência inicia-se pela tomada de consciência de que a pessoa precisa de centrar-se em si mesma, desprendendo-se da adição ao outro, procurando ajuda para identificar as suas vulnerabilidades e os vazios que tenta preencher através da dedicação aos outros. Quando as pessoas começam a gostar de si mesmas, a cuidar das suas feridas e a sará-las, quando aprendem a expressar os seus sentimentos e necessidades de forma adequada, as pessoas ganham noção dos seus limites e ganham perspectiva sobre si próprias.
Quando as pessoas gostam de si mesmas vão tender a procurar pessoas que as valorizem e respeitem pelo o que elas são. O ciclo da co-dependência pode ser interrompido e desfeito quando a pessoa co-dependente compreende que a resolução do seu problema reside em si próprio. Reside em tomar responsabilidade por si, tomar conta da sua vida e assim ficar disponível para poder verdadeiramente amar.
Sugestão de leituras sobre este tema:
“Vencer a Co-Dependência – Como Deixar de Controlar os Outros e Cuidar de Si”, Melody Beattie, Sinais de Fogo
“Mulheres que Amam Demais”, Robin Norwood, Sinais de Fogo
 

Comentários

Anônimo disse…
O tema Co-dependência é muito importante. Admito agora ser um dos personagens da Co-dependencia que encontra-se na literatura. Construi parte de minha vida sob um casamento submisso durante 22 anos e agora divorciada enfrento a realidade e também a jornada de um filho dependente químico que também me manipulou durante 10 anos. Hoje frequento um grupo de apoio e aprendi que não existe culpa mas responsabilidade! Estou em tratamento para gostar mais de mim mesma e quem sabe poder ajudar meu filho!
IPK

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