Violência de gênero e o papel da mídia

Gênero é uma construção social que se aprende e que, ao contrário do sexo, não é imutável: varia de acordo com a época, o grupo regional, étnico ou econômico.

De 1930 a 1945 uma revista semanal intitulada Jornal das Moças, ditava a conduta adequada às mulheres da classe média da população brasileira.1

As páginas da revista continham discurso de modernidade e de consumismo. Os temas como moda, beleza, culinária e decoração desprezavam o momento vivido (1939 a 1945) em pleno período da II Guerra Mundial.2

De acordo com Guattari, a mída exerce uma importante função a serviço do controle social.3 Portanto, muitos dos artigos e conselhos encontrados naquele periódico e em tantos outros editados atualmente não são desprovidos de intenções mais amplas.

O Jornal das Moças ditava as maneiras corretas, e as incorretas, de como se portar, do que falar, onde colocar as mãos durante uma conversa, mas antes de tudo lições de tolerância, harmonia doméstica e serenidade, tudo em nome da ordem dominante.4

Em Cuiabá, um grupo de jovens da escola normal e de senhoras da sociedade cuiabana fundou a Revista "A Violeta", em 1916, que era editada pelo Grêmio Literário "Júlia Lopes".

Segundo consta, o objetivo da publicação era dar um ponta-pé inicial para construção da cidadania das mulheres de Cuiabá, que viviam sob o regime altamente machista.

Entretanto, em pesquisa ao conteúdo do que era publicado na revista verifica-se que a intenção era de reforçar o papel da mulher, mãe virtuosa:

“Colaboradora assídua em A Violeta, Júlia Lopes de Almeida defendia o papel da mulher como regeneradora do homem e da sociedade. Em seus artigos, enfatizava as qualidades ditas naturais na mulher: pureza, simplicidade, humildade e recato, atributos necessários para que ela desempenhe o seu papel essencial de mãe e dona-de-casa. Júlia Lopes foi considerada exemplo perfeito, a ser imitado pelas redatoras e leitoras de A Violeta.”5

Assim, concluo que a mídia desempenha papel fundamental na descontrução de esteriótipos criados em momentos diversos da nossa história, mas até hoje vigentes em nossa sociedade.

Nessa linha de raciocínio é importante que a mídia colabore divulgando eventos relacionados ao tema, que apesar de serem ações pontuais, ajudam na conscientização da verdadeira função da mulher.

Mais uma vez militantes do Movimento de Mulheres de todo o Brasil elaboraram uma programação para lembrar a data que também se refere ao Dia Internacional da não violência contra a mulher.

Serão marchas, manifestações, audiências públicas, palestras e outras atividades. Com a palavra a imprensa!

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1 a 4 Mulheres em rádio e Revista: Imagens Femininas na Época de Ouroda Música (Rio de Janeiro1930/1940).
5 A construção da identidade feminina, em Cuiabá, na Primeira República por Angela Maria de Oliveira Almeida, Elizabeth Lannes Bernardes e Maria de Fátima Souza Santos

Comentários

Maria Fernanda disse…
Olá querida,
adorei esse texto, muito bem feito.

Acredito tb na importante colaboração da midia no movimento mulher.

bjs

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